[C.M.] Os 4 Pilares Ocidentais de Yukio Mishima:
Yukio Mishima foi uma figura que sintetizou suas ideias em figuras ocidentais e orientais. Seus mestres da poesia e literatura japonesa clássica e moderna (como Yasunari Kawabata, já bem conhecido pelos mishimianos), os textos zen de samurais de períodos de outrora, alguns sutras de várias vertentes do budismo, textos hindus como os puranas e os Vedas, cresceram dentro de Yukio Mishima junto às obras de Homero, Dante, dos dândi, dos místicos medievais, dos filósofos franceses e alemães e de diversos outros clássicos da literatura ocidental, e a influência que o ocidente teve sobre Mishima é algo que contemplamos absorvidos em admiração, pois ele consegue transformar algo tão distante do Japão em algo japonês! Parafraseando o próprio Mishima “uma característica dos japoneses que é constantemente observada é como eles arremedam de maneira fácil e fiel algo de uma cultura estrangeira, ao ponto de ser uma imitação perfeita, e logo depois a assimilam totalmente, o que era apenas um capricho estrangeiro, à cultura japonesa”[1]. Após realizar essa assimilação ao seu pensamento e às suas ideias, Mishima realiza sua obra estética, política, aventuresca, samuraica, romântica e trágica (as vezes apenas uma das características anteriores, as vezes todas) e nos deixa alguns rastros de seus influenciadores, seja por cartas ou menções literárias, então buscarei aqui os 4 principais nomes ocidentais que influenciaram Yukio Mishima:
Oscar Wilde: O escritor inglês, um dos grandes nomes do dandismo, nos escreve ao século anterior do surgimento de Mishima uma obra que podemos observar como uma das maiores fontes para o pensamento estético e niilista de Mishima, “The Portrait of Dorian Gray”, obra onde encontramos reflexões sobre o que é a arte (e sua relação com o artista), o que é a beleza e suas manifestações, o homoerotismo, que veremos com a mesma discrição no conto mishimiano “Onnagata” e no livro “Cavalos Selvagens”, e também veremos o tema da pureza ser muito abordado por ambos os autores.
Gabriele D’annunzio: O escritor italiano foi um dos primeiros contatos de Mishima com obras “excitadas” pelo espírito de nietzscheano da ação e da superação do homem em sua busca pelo Übermensch. O desejo pela morte e sua admiração por São Sebastião (Mishima traduz e faz a introdução em japonês do musical “Le Martyre de saint Sébastien” de D’annunzio) é algo presente em ambas as literaturas, principalmente a questão da morte, que Mishima faz questão de investigar, recorrendo aos sutras budistas e textos hindus já citados.
Charles Baudelaire: Baudelaire é talvez o nome mais conhecido do movimento dândi. Um dos maiores estetas de seu tempo, dedicou boa parte da sua agitada e luxuosa (e luxuriosa, lust and luxury) à poesia, onde a maior e mais conhecida coleção de seus poemas é “La Fleur du Mal”, obra que Mishima lia com avidez pelo seu caráter romântico, gótico e subversivo de muitos valores literários e sociais da época, onde Baudelaire revelava desejos, pessoais ou não, não convencionais, o que levou à censura de alguns poemas da coletânea.
Friedrich Nietzsche: esta é a figura central das influências de Mishima, pois os conceitos anteriormente abordados por outros escritos nasceram ou foram influenciados, direta ou indiretamente, por Nietzsche. A dualidade de Apolo e Dionísio fora traduzida por Mishima como o Sol e o Aço, respectivamente; a noção do Eterno Retorno, que Mishima identificou nos textos budistas que lia, Mishima traduziu em Mar da Fertilidade; a superação do homem através dele mesmo, como um Zaratustra, foi não apenas um fundamento da escrita de Mishima, mas também de sua própria vida, uma busca pela ascensão entendendo e ignorando a dualidade. Isto tudo apenas para pegar os conceitos principais da filosofia nietzscheana, pois Mishima leu a obra inteira de Nietzsche e vez ou outra parafraseava ou se lembrava do Filósofo em textos e cartas.
[1] “Young Samurai — Bodybuilders of Japan”, introdução de Yukio Mishima. Link: https://adonaibraga.medium.com/o-caminho-do-corpo-jovens-samurais-fisiculturistas-do-jap%C3%A3o-introdu%C3%A7%C3%A3o-de-yukio-mishima-c7ceaddc27a6