O nome de Deus à língua de um povo: Deus em O’zbekcha e outros idiomas
Descobri recentemente mais um* idioma que trata o Deus Único com o nome de um deus antigo do seu povo, e nesse caso é o O’zbekcha, idioma (ou dialeto, quem sabe?) túrquico do Uzbequistão que, quando não usa Allah (afinal, a maior parte do país é muçulmano), usa Tengrii, antigo deus mongól dos céus, para designar Deus num contexto extra religioso (“oh meu Deus”, “Deus te guarde”… [mesmo que o islã tenha suas exclamações árabes bem difundidas, como “Alhamdulillah”, “Graças a Deus”, alguns não as usam em árabe] ) ou numa situação não ligada diretamente com um rito islâmico (por exemplo nós falantes de português falamos “Deus” independentemente da religião. Mesmo entre muçulmanos já vi conversas informais em que não usavam “Allah”, mas “Deus”). Já vi Tengrii ser usado no idioma Kazakh, do Cazaquistão, de mesma família túrquica que o O’zbekcha, então tenho motivos para crer que outros idiomas daquela região e de mesma raiz linguística usem o mesmo termo, mas não posso afirmar.
*os outros 3 exemplos que recordo-me agora são:
- no tupi antigo, que nas traduções da Bíblia pro tupi antigo, os jesuítas traduziram os nomes de Deus na Bíblia por Tupã (ou Tupãna, depende da tradução)[1]
- no japonês, que não usou uma divindade em específico, mas o conceito de Kami (神) para chamar Deus, como Kami Sama (神様, “Senhor Deus” ou “Venerável Deus”)
- nas línguas indo-europeias que chamam Deus de Deus, que é uma palavra que significa, (provavelmente) na sua etimologia, algo como “celestial”. Esse nome esteve presente com Zeus (“Ζεύς”, Zdeüs, em grego ático, mas também era chamado de “διό”, dió), Júpiter e Dyauş Pita (द्यौष्पितृ, literalmente “Pai Celestial”), fora os que agora eu não me recordo.
Após eu ter publicado este texto numa rede social (com menos formatação e alguns erros corrigidos aqui), um amigo me atentou sobre dois outros idiomas que usam o nome de um deus antigo para designar o que atualmente seria a forma genérica de falar “Deus” naquele idioma: o Persa (Fársi) e Urdu (ambos idiomas de raiz indo-europeia) usam o termo Khuda (ou Khoda), um epíteto do deus zoroastra Ahura Mazda.
[1] “Gramática de Tupi”, Padre dr. Constantino Tastevin; “Gramática Tupi”, Adaucto Fernandes